sexta-feira


Hoje de manhã eu acordei e fiquei olhando para tudo catatônica, um misto de susto com deslumbramento. Me dei conta de que essa é a pior e a melhor fase da minha vida.
Eu nunca andei tão triste e nem tão feliz.
Foi difícil enterrar tantos mortos e tantas rotinas, mas está sendo muito fácil viver dentro de mim.

  Tati B.

domingo



Então, você chora algumas vezes, escondida pra que ninguém veja, a ache ainda mais uma coitada. Faz suas amigas o detestarem mais do que bife de fígado. Sua mãe, não pode nem ouvir o nome do "idiota". Seu irmão, o acha um babaca detestável. E enfim, você fica sozinha algumas semanas. Não quer sair de casa, e deseja curtir uma solidão bege e sem voz; chorosa. A sua tristeza com intensidade, pra que ela vá embora logo, e tudo volte a ter cor - e não mais lágrimas, voz. Equilibrada, e achando que está pronta, se enche de novas roupas, alguns pares de sapatos, e um corte de cabelo novo. Auto-estima mil. Curte, e dança. Sai quantos dias da semana pode, conhece gente, sorri enlouquecidamente, e provoca com o olhar. E beija um. Mais um. Dois. Outro. Continua beijando este outro. Fica feliz, mas nada que a dê vontade de fazer a dancinha e pensar bobagens, ensaiar discursos. Até que, no meio de um filme que você quis muito ver, você se toca: tá tudo errado. Tudo péssimo. O que faço eu, aqui? De roupa bonita, e delineador nos olhos? Calada. Se torna intangível, e lembra do momento que vendo o banner do filme, comentou com ele, o quanto queria ver. E como queria que, ele visse com você (não esse cara, com rosto de bebê, e gestos cordiais e enjoados). E na volta, no carro, o nome dele no rádio. Seu perfume em outro moletom. E a ficha cai: sinto falta. Sinto imensamente uma saudade que me dói, e que não passou. Angústia, vida confusa. E coincidência ou não, toca seu telefone. Como numa coreografia ritmada maluca do destino, ele também quer saber como está a sua pessoa deslumbrante. Tantas novidades, euforia numa conversa onde largando o telefone celular, suas mãos suam. E volta a paz, o sorriso no rosto - sem explicação ou propósito algum. Volta-se a correr no calçadão. Você volta a gostar de algumas músicas que antes, doíam só de escutar. E sentada na sacada, após meditar por longos quinze minutos, reflete: a carne É fraca. Frente à essa fragilidade, temos ainda que demonstrar força. Buscar ser fortes de qualquer maneira. Até que, chega uma hora em que, se essa fortaleza não é real, tudo desaba: você, no choro, na falsidade ideológica em que andava vivendo. Cai de boca nessa felicidade que é saborosa, mas pode acabar a qualquer minuto.
Prometi que nunca mais, e aqui estou eu: talvez feliz, um pouco confusa, mas com uma adrenalina e um sentimento inexplicável dentro de mim. Por mais que não valha nada. Por mais que tudo seja passageiro. Que passe, mas que marque; pra sempre. Apenas ele tem o sorriso que consegue desfazer qualquer escudo sólido que construí, meses à fio. É ele quem me tira o sossego, e devolve quando necessário. Que não é clichê, e filosofa sobre como mulheres ficam feias com o cabelo curto, e o quanto tudo o que lemos, se formos pensar, se encaixa na nossa vida, no nosso momento. Mesmo sem saber, é o tal quem me faz rir sozinha vendo algo, e pensando em lhe contar mais tarde. Ou que, quase me faz jogar no lixo a cartilha em que descrevi meus princípios, com a sua eloqüente capacidade de convencimento. Lobo em pele de cordeiro, sedento também pela mesa aqui posta. Conversa comigo sob travesseiros, e uma janela onde chove, e podemos escutar gritos da torcida do meu time. E que mesmo nessa confusão toda, esse caminho sem placas, e sinalizações, sigo; pode ser cega, ou emotiva, mas vou indo. Me perdendo, consumindo. Deixando queimar. Nem minha mãe, ao me ver chegar em casa, me viu tão feliz e desmaquiada. É a saudade morta, explico. Ficou aqui em mim, e destruiu base, pó, e rímel. A carne é fraca, ou a fraqueza está dentro de mim, e dessa minha cabeça confusa, em uníssono ao meu coração enorme? Eu só quero felicidade, e cumplicidade. Tentei em outros seres, e desculpa, não consegui. Você sabe que é capaz de me fazer largar o mundo, a minha tão almejada estabilidade, pra entrar nas curvas sinuosas e inesperadas, que é a sua vida. Novamente. E se preciso, de novo, e de novo. Fingindo ser a primeira vez; jurando não ser a última. Se diz você, que te enlouqueço, esqueci eu de confimar e dizer que, você também tem o poder de me deixar doida. E tenho apenas a te agradecer por isso. Se a carne é fraca, não há mesmo muito o que fazer. É química, explosão, necessidade. Então, como não participar feliz do banquete, desse churrasco apetitoso? Me delicio, e penso: que seja louco, mas que dure. Vocação pra vegetariana: zero. Deus me deixou cair em tentação. E tem me livrado do mal. Amém!

Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atento, numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos: duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber.





Caio F

Está acontecendo de novo. Ele volta toda vez que penso que foi embora. E ele trás consigo meu sorriso. A única felicidade já encontrada. Tenho tanto medo de me perder de novo, e de novo, e de novo. Ele é o cara errado, sei disso. Mas afinal todos são errados mesmo, vale a pena investir naquele, no único que me tocou lá no fundo. E não, eu não estou falando dele, nem do que veio antes. Estou falando do antigo, daquele que já havia aparentemente partido há muito tempo. Ele que me fez feliz, que me fez sofrer, que fez que eu me sentisse a melhor e a pior das pessoas, que não aceitava as minhas idéias, que não é um amor de pessoa e nem ajuda idosos. Mas é sobre ele que eu escrevo, é ele que perturba minhas noites, que me fez as promessas mais imbecis e eu acredito, que me deixou e jura ter sido trocado.. Fico trazendo histórias do passado por nada, e eu não devia. Mas que se dane. Eu que sonho, eu que amo, eu que caio. '